fragmentos
poesia quase todo dia
se não escrevo, não estou vivo
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se não escrevo, não estou vivo

poema de eduardo furbino

este é "se não escrevo, não estou vivo", um poema sobre escrever e fazer-se vivo:

se não escrevo não estou vivo

um dia hei de ser feliz de novo

se não escrevo se não dobro a caneta

se o lápis não me é na mão

um pedaço pré-histórico de magma

não estou vivo não respiro

e como consequência surge no olho o vermelho do sangue

onde não há sangue não há vermelho

nas terras em que brincávamos achávamos sangue no chão

na cor do barro no solo úmido

por onde passavam tratores amarelos

com dentes escavando escavando escavando

até que do mundo só se visse o osso

enterrado como raiz de montanha

a montanha é o primeiro parágrafo de deus

onde começa a história e jaz a sombra do primeiro homem

queria uma caneta capaz de reescrever o gênesis

onde me mataria como um irmão mata a um irmão

por inveja da carne e ojeriza à rejeição

pela saudade de um amor filial que ainda não se foi

hei sim de ser feliz como antes

como quando a noite ainda não tinha se dividido em duas

e o dia era menos que uma ideia

como quando a vida era pergunta:

“e se houvesse algo tão belo

cuja mera ideia de perdê-lo

o fizesse partir?”

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poesia quase todo dia
este é o poesia quase todo dia, um podcast onde te entrego poesias e prosas curtas escritas por mim, eduardo furbino, um escritor & artista visual mineiro que vive em são paulo. vez ou outra, leio também textos de pessoas que me inspiram. veja mais poemas no instagram: @edufurbino
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