este é "se não escrevo, não estou vivo", um poema sobre escrever e fazer-se vivo:
se não escrevo não estou vivo
um dia hei de ser feliz de novo
se não escrevo se não dobro a caneta
se o lápis não me é na mão
um pedaço pré-histórico de magma
não estou vivo não respiro
e como consequência surge no olho o vermelho do sangue
onde não há sangue não há vermelho
nas terras em que brincávamos achávamos sangue no chão
na cor do barro no solo úmido
por onde passavam tratores amarelos
com dentes escavando escavando escavando
até que do mundo só se visse o osso
enterrado como raiz de montanha
a montanha é o primeiro parágrafo de deus
onde começa a história e jaz a sombra do primeiro homem
queria uma caneta capaz de reescrever o gênesis
onde me mataria como um irmão mata a um irmão
por inveja da carne e ojeriza à rejeição
pela saudade de um amor filial que ainda não se foi
hei sim de ser feliz como antes
como quando a noite ainda não tinha se dividido em duas
e o dia era menos que uma ideia
como quando a vida era pergunta:
“e se houvesse algo tão belo
cuja mera ideia de perdê-lo
o fizesse partir?”
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