Eduardo Furbino
Poesia Quase Todo Dia
a fé é o enfeite da espera
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a fé é o enfeite da espera

um poema
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arte de fritz stuckenberg
o ritual pede sangue
seu e meu
mas não fala de facas
nem especifica se deverá ser cortada
a pele

a vela branca é branca porque
se diz pura
os lençóis são brancos
a espuma do mar
a esclera do olho
mas não a boca
a boca é vermelha feito um rim
feito o sol de cubatão
o sangue

o ritual pede uma oferta
ouro e mirra ou leite materno
concedo aos deuses essa dança
a fé é o enfeite da espera

a mão que zarpa em vontades
pestaneja diante do desejo
o ritual pede que se carregue
sobre os lábios
o gosto do beijo

amparados pelo que nos contaram
sobre o fim dos tempos
nos separamos em
pedaços de esperança
e sonhamos

(um band-aid é como
o embrulho da dor
e a pele está de fato
cortada)

combalidos deitamos
no corredor frio da casa
e tudo ao redor gira
e não há nenhuma casa
o chão as costas os bruços
é tudo o que temos

o ritual requer um pedido
depois de muito pensar
o encontramos

santo antônio não foi feito santo
por atos pregressos 
mas pela promessa de um futuro
e ancorados nisso pedimos
por tempo

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