este é "dois corpos", um poema sobre a ambiguidade de estar vivo:
tenho dois corpos:
um falso, um verdadeiro;
tenho dois corpos e
nenhum deles inteiro
metade de mim é pura mentira:
o passado, a infância, a mãe;
metade de mim, tudo verdade:
o futuro, a velhice, o irmão;
e há ainda uma terceira metade
nessa conta tão equivocada
onde a soma sabe-se menos que nada
e o dividendo é a fração de um pai
tenho dois corpos:
um físico que não quantifico
outro sujeito à gravidade da lei
tenho dois corpos:
um desenhado na areia
outro entalhado no barro
tenho dois corpos:
um que se sabe nomear muito bem
outro que ainda me pergunta
qual é mesmo o nome que tem
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