fragmentos
poesia quase todo dia
a a z
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a a z

um poema de eduardo furbino

este é "a a z", um poema sobre os encontros e desencontros de um relacionamento amoroso.

de A a Z, quantas letras falam sobre mim

quantas letras falam sobre você?

e se as letras falassem, seriam elas letras ou sons?

e se fossem sons, será que seriam bons

ou soariam como johnny cash imitando neil young

enquanto na plateia ninguém entende nada

e a pergunta fica solta no ar, sem resposta: e aí, é bom?

o nosso disco tá arranhado e é por isso que falo disso

enquanto o coloco na vitrola e a música que toca

parece ter mais letras do que os ouvidos sabem ouvir

eu apertaria pausa, se nas vitrolas existisse pausa,

só pra poder procurar no dicionário

o que é que o nome dessa tal rosa de hiroshima quer dizer

se é rosa ou se é mulher e se nasceu mesmo em hiroshima

e o que acontece com ela depois que alguém a colhe

e o que acontece se ninguém a escolhe

e se aquela bomba nunca cair

do que é que a gente vai chamar as rosas dali?

tem a chance, a pequena chance, de que o nome seria

o mesmo que damos a todas as outras rosas

mas quem aqui sabe das coisas?

quem aqui escreve prosa chamando rosas

de um nome que não seja um nome que não se dá às rosas?

quem é louco, quem é frouxo, quem sabe tão pouco da vida

que já não conhece esse beabá, que já não suspeita

que o disco arranhado é só uma metáfora

pro que a gente vem guardando dentro do peito

ou no criado, ou dentro da caixa cheia de cartas

ou escondido embaixo das reservas pagas daquele hotel em praga?

são os nossos votos quebrados, os reflexos no espelho

os olhares enviesados enquanto eu tomo café

e você se arruma pra mais um dia de trabalho

tão linda quanto da primeira vez que te vi

eu queria ter forças pra continuar aqui só pra saber

se você vai continuar tão linda assim na última vez que eu vir você

se aquele alfabeto que fala sobre mim e sobre nós

se todas as letras e sons e rosas e o neil young

serão suficientes pra escrever a minha parte da história

ou se de A a Z eu vou ser nada mais que um A à esquerda

e as nossas vidas voltarão a ser como já foram um dia

duras e ásperas e cheias de fúria, contidas e frias

alfabeticamente trancafiadas em palavras que a gente não disse

um abecedário de esperanças vencidas

que nossos tantos As e Zs conseguiram tornar azedas.

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poesia quase todo dia
este é o poesia quase todo dia, um podcast onde te entrego poesias e prosas curtas escritas por mim, eduardo furbino, um escritor & artista visual mineiro que vive em são paulo. vez ou outra, leio também textos de pessoas que me inspiram. veja mais poemas no instagram: @edufurbino
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