oi, como você tá? como foi de carnaval? espero que tenha aproveitado bastante, de qualquer forma que seja.
essa semana decidi tentar algo diferente do que fiz nas últimas edições, escrevendo um único poema longo em vez dos fragmentos que geralmente te envio. a poesia longa fez parte do meu 2016 e 2017, época em que escrevi alguns poemas narrativos imensos (maiores até do que o que você vai ler aqui).
como hoje em dia publico meus textos no instagram, acabo criando muita poesia curta, que é o melhor formato para aquela rede, mas confesso que tenho uma saudade imensa de escrever em fluxo de pensamento. foi exatamente o que fiz com o texto de hoje, providencialmente chamado um longo poema sobre o nada. ele foi escrito em uma única sentada e eu não fazia ideia de para onde o texto me levaria, antes de chegar à penúltima linha, quando finalmente entendi.
espero que você goste e que, se gostar, compartilhe com mais pessoas. até logo!
preciso me preparar para mais um domingo há tanto a dizer entre feiras e páginas às vezes a vida parece garapa azeda extraída da memória do que era doce quando se percebe que o agora será uma memória pior do que o antes o ontem o que ficou para trás joias cristalinas porque não podemos tocá-las nenhum passado seria bonito se fosse livro aberto um fato que a memória consegue consumir e não algo que nos consome e faz sumir razão e paz é preciso escrever para sobreviver nada parece fazer mais sentido nada é breve tudo é longuíssimo a espera das coisas o jaguar insone as pernas com elevadores as pernas que se abrem mais do que os olhos no calar da noite conseguem se fechar esse sim é um longo poema sobre o nada porque nada mais faz sentido além disso: da vontade de dizer o que sinto essa vontade avassaladora sem saber direito colocá-la em palavras essa sim é minha efígie a lápide da sanidade e espero que o que não está aqui aparentemente se faça aparente quando você ler o poema quando tocar a ponta do nariz para saber se ainda é real se seu corpo ainda é um pedaço de carne e não apenas um formigueiro de pensamentos eu queria viajar com você para um lugar distante queria intercalar meus sonhos com sua risada queria descobrir o que há de mim em você esquecer o que há de você em mim queria tocar a ponta do seu nariz e tantas tantas outras partes mais queria que suas costas fossem uma rodovia para as minhas mãos para a minha língua para tudo o que desejo fazer passar pelo seu corpo uma enxurrada de sensações que te façam lembrar de mim quando eu me for quando tudo isso acabar tenho muito medo do fim tenho muito medo de tudo e tanta tanta tanta saudade do que imaginei do que sonhei que seríamos que ela impregna tudo o que faço cada momento e transforma um insano e longo poema sobre o nada em um poema sobre a dor de não sermos nós eu queria te ver uma última vez que fosse melhor que a última vez que te vi eu queria te dizer o contrário de tudo o que disse e quem sabe assim te daria uma razão para ficar ou melhor ainda quem sabe assim me daria uma razão para não ir embora antes do fim
uma música
a música que mais tenho escutado é não estaremos sós, da banda čao laru. é um som que, coincidentemente ou não, dialoga muito com o texto de hoje, com a ideia de solidão e separação, muito embora eu precise dizer que o desfecho da música é mais esperançoso que aquele que dei ao poema.
penso nos dois textos como um diálogo entre realidade e esperança, memória e sonho. gosto, especificamente, dessa estrofe aqui:
Enquanto houver espaço pro depois
O traço do amanhã a gente faz
Ao redor de nós
Quando o sinal fechar
Não estaremos sós