o medo tem sido, desde muito cedo, meu mais constante companheiro. aprendo muito com ele. com o tempo, deixei de fugir e passei a aceitar sua presença; a aprender com ela sobre meus limites, acolhendo minhas maiores fragilidades, estendendo a mim mesmo o cuidado e compaixão que tão facilmente estendo aos outros.
essa relação com meus medos é tema de muitos dos meus textos, alguns deles muito importantes para meu próprio amadurecimento. escolhi três desses para dividir com você neste domingo. espero que goste :)
estrada
você me conta seus medos
diz que seus olhos
há muito desaprenderam a querer
disso bem sei
há tempos guardo comigo o que penso
mas hoje desejo que entre nós
todas as verdades sejam óbvias
que aprendamos a percorrer
as muitas distâncias que nos separam
todo medo é uma dúvida te digo
mas toda dúvida sabe ser uma estrada
salto
o abismo nos olha
indiferente
tantos outros foram tragados antes
tantos outros serão tragados depois
o abismo presta atenção
nos que pulam
comunidade entre nós há um corpo em comum preso indefeso entre alegorias orgias de sentidos um par de braços uma única cabeça um pedaço de carne pendendo entre as pernas e o peito denso feito floresta tropical entre nós o diferente é o igual o igual é o igual as armaduras são as mesmas e os golpes nos acertam em cheio sangramos o medo e o medo se diz desejo um pecado capital em terras interiores expiamos a culpa com cuspe dedos línguas e o amor crescendo lento entre as costelas tudo é o mesmo mas o mesmo é agora o novo entre as escápulas traçamos uma rota escapamos do corpo regressamos ao outro
uma música
em agosto deste ano nick cave vai lançar wild god, seu 18º álbum de estúdio acompanhado da banda bad seeds. hoje em dia, ele é a minha principal referência artística, a pessoa viva que mais me inspira a me conectar com meus sentimentos e a criar.
nas últimas semanas, fiquei viciado em sua versão de free to walk, música do falecido jeffrey lee pierce que interpreta no álbum “we are only riders”, um tributo póstumo a pierce. nessa música, cave é acompanhado da belíssima voz de debbie harry. ela está aqui, para você ouvir:
o salto
amei <3
Eduardo, que bom ler seus poemas!
Esses intervalos de silêncio são tão necessários quanto o tempo de criação né?!
Espero poder lê-lo mais vezes.
Até breve!