não era para eu te enviar esta edição. tinha planejado retomar a newsletter só depois da virada do ano, mas o poema abaixo surgiu hoje junto ao nascer do sol e não tive escolha. às vezes (quase sempre) o que escrevemos manda na gente.
minha primeira coleção de prints, demônio público, está à venda! você pode ver e adquirir as artes com valor promocional de lançamento na lojinha.
há um mundo se formando de súbito no meu olho esquerdo se o abro vejo manchas vermelhas contornos do desejo se o fecho as formas persistem na retina vestida como se estivesse nua há um povo todo vivendo no meu osso esterno um maremoto de vozes na minha cabeça e escuto a cada uma com igual atenção aprendi desde cedo a reparar nos outros a julgar os outros a dizer aos outros que o peso do meu julgamento é a medida do amor há uma febre súbita roubando a cena na minha testa há suores escorrendo pelas costas e pernas meu mundo inteiro minha pele minha rua e praça os fios de cabelo caindo mudos os olhos abertos a secura da boca em ressaca minha carne que é terra que abriga os vestígios de uma antiga vida eterna da memória de um paraíso perdido o inferno as asas caídas o diabo sorrindo e eu sorrindo de volta meu corpo minha vida meu destino entregue ao redemoinho
uma música
tenho ouvido bastante a não identificado, do caetano, na voz do ayrton montarroyos. essa me pegou muito na última semana.
do podcast
para fechar o ano, queria indicar meu poema favorito: se não escrevo, não estou vivo. fiz a leitura dele no podcast um tempo atrás e você pode ouvi-lo aqui: