de bruços e de quatro muita coisa foi feita
o que é uma paixão senão o apocalipse da certeza?
sabe aquelas paixões que te arrebatam? que surgem do nada e te transportam para um mundo onde parecem ter sempre existido? este poema foi escrito para uma delas, para alguém por quem me apaixonei de forma dupla: primeiro, querendo que eu a tivesse; depois, diante da impossibilidade de tê-la, desejando que ela continuasse a viver em mim não como amante, mas como amiga.
pela primeira vez, estou enviando também uma leitura minha do poema, que gravei essa semana para o podcast, mas acabei não lançando.
espero que você tenha tido a sorte de viver algo assim (ou que o futuro ainda te dê essa chance). te garanto que muda a gente. muda o mundo.
de bruços e de quatro muita coisa foi feita (partir depois da meia-noite é um parto antinatural quem já ficou até tão tarde não tem razão para ir o calabouço que é uma cama vazia meu deus) eu preferiria mil vezes nunca ter me deitado nem ter te dado aquele dedo para chupar preferiria que esses lençóis acetinados não tivessem experimentado seu suor e seu gozo que minhas coxas não conhecessem seu toque para que reconhecê-lo não tivesse se tornado um fardo de costas e de lado esse mundo foi criado o nosso mundo quatro paredes e ar rarefeito ali está seu peito aberto para que sobre ele eu passe altivo um fodido um rascunho limitado de homem e ainda assim um homem que te dobra e derrete que dança sobre seus ombros feito uma labareda solar você tem na barriga o vulto da fome mas não a sente tem sobre a pele escamas de serpente mas não as conquista carrega no bico do peito o termômetro do mundo mas nunca o usa quando falávamos sobre aquele filme quando minha mão estava entre suas pernas e minha boca engolia suas pequenas mortes uma a uma ali você deveria ter me deixado ali deveria ter me dito é aqui que fico é por isso que tenho esperado é onde me sei inteira que me sinto viva e para não me partir eu parto eu te amei feito uma besta ancestral sim e foda-se você me amou como uma montanha a um vale um gato à ausência uma velha carpideira ao momento em que a morte a faz desfiar sua crença e nada disso importa o tanto que a gente se gosta dane-se é precisamente o amor o que te ensina a se despir de mim para se vestir da pele que é sua (uma pele com aquelas escamas de serpente) sim, eu ainda te levaria à planície do quarto chapiscaria as paredes com seu nome e onde quer que não me ocupasse de você entoaria uma oração ao tempo para que minhas horas tivessem de novo o ritmo do seu fôlego e onde nos encontrássemos seria ali e em nenhum outro lugar o eixo do nosso mundo a linha imaginária de um trópico de capricórnio que cruza com violência uma praia vazia e ensolarada no rio de onde você vem no rio que te deu a vida desembocam minhas águas é onde somos por instantes uma mistura líquida até que a física da distância nos dilua num atlântico onde nos reencontramos embarcados nas nossas vontades
uma música
depois de um tempo sem recomendar músicas, acho que é hora de voltar com força total. que tal esta para depois que você ler o poema?