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de bruços e de quatro muita coisa foi feita

o que é uma paixão senão o apocalipse da certeza?

eduardo furbino
18 de jun. de 2023
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sabe aquelas paixões que te arrebatam? que surgem do nada e te transportam para um mundo onde parecem ter sempre existido? este poema foi escrito para uma delas, para alguém por quem me apaixonei de forma dupla: primeiro, querendo que eu a tivesse; depois, diante da impossibilidade de tê-la, desejando que ela continuasse a viver em mim não como amante, mas como amiga.

pela primeira vez, estou enviando também uma leitura minha do poema, que gravei essa semana para o podcast, mas acabei não lançando.

espero que você tenha tido a sorte de viver algo assim (ou que o futuro ainda te dê essa chance). te garanto que muda a gente. muda o mundo.


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de bruços e de quatro muita coisa foi feita
(partir depois da meia-noite é um parto antinatural
quem já ficou até tão tarde não tem razão para ir
o calabouço que é uma cama vazia
meu deus)

eu preferiria mil vezes nunca ter me deitado
nem ter te dado aquele dedo para chupar
preferiria que esses lençóis acetinados
não tivessem experimentado seu suor e seu gozo
que minhas coxas não conhecessem seu toque
para que reconhecê-lo não tivesse se tornado um fardo

de costas e de lado esse mundo foi criado
o nosso mundo
quatro paredes e ar rarefeito
ali está seu peito aberto para que sobre ele eu passe altivo
um fodido um rascunho limitado de homem
e ainda assim um homem que te dobra e derrete
que dança sobre seus ombros feito uma labareda solar

você tem na barriga o vulto da fome
mas não a sente
tem sobre a pele escamas de serpente
mas não as conquista
carrega no bico do peito o termômetro do mundo
mas nunca o usa
quando falávamos sobre aquele filme
quando minha mão estava entre suas pernas
e minha boca engolia suas pequenas mortes
uma a uma
ali você deveria ter me deixado
ali deveria ter me dito
		é aqui que fico
		é por isso que tenho esperado
		é onde me sei inteira que me sinto viva
		e para não me partir eu parto

eu te amei feito uma besta ancestral
sim e foda-se
você me amou como uma montanha a um vale
um gato à ausência
uma velha carpideira ao momento em que a morte
a faz desfiar sua crença
e nada disso importa
o tanto que a gente se gosta
dane-se
é precisamente o amor o que te ensina
a se despir de mim para se vestir da pele que é sua

(uma pele com aquelas escamas de serpente)

sim,
eu ainda te levaria à planície do quarto
chapiscaria as paredes com seu nome
e onde quer que não me ocupasse de você
entoaria uma oração ao tempo
para que minhas horas tivessem de novo o ritmo do seu fôlego
e onde nos encontrássemos seria ali
e em nenhum outro lugar
o eixo do nosso mundo
a linha imaginária de um trópico de capricórnio
que cruza com violência uma praia vazia e ensolarada
no rio de onde você vem

no rio que te deu a vida desembocam minhas águas
é onde somos por instantes uma mistura líquida
até que a física da distância nos dilua num atlântico
onde nos reencontramos embarcados
nas nossas vontades

uma música

depois de um tempo sem recomendar músicas, acho que é hora de voltar com força total. que tal esta para depois que você ler o poema?

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