este poema não rima desde sexta-feira, 12 de março de 1983. neste poema: linhas soltinhas, estrofes, versos remendam palavras quebradas. há um tanto a ser dito: em 1974 uma bomba explodiu no planalto, no auge da repressão, uma guerra travada entre famílias, amigos, escolas, quarteirões. em abril de 1990 lech walesa disse não. na última terça de outubro, dez anos atrás, o papa pôs suas mãos sobre o rosário e deslizou os dedos pelos mistérios dolorosos. o tempo é uma arma cuja bala dispara para trás e rasga a carne da memória, momentos. o tempo engole o choro (o seu e o nosso) e, muito esperto, nos disfarça com a pele que aprendemos a ter. em 2006 duas pernas foram quebradas por minuto no hemisfério norte. em 2020 alcançamos um dos pontos de não-retorno. quando penso no que perdi, me sinto completo, como se o que restou ocupasse o espaço de tudo o que sou. em certos lugares do mundo o sol se põe quadrado, mas não quando o seguro nas minhas mãos. entre o sol e o rosto daqueles que amo a diferença é que só um deles me queima por dentro. em setembro de 1989 vim ao mundo como uma afronta às estatísticas. em 2000 escrevi minhas primeiras histórias. não há nada que me pare e, ainda assim, sinto que vou colapsar a qualquer momento. em julho de 2024 escrevi este poema. em julho de 2100 (exceto se tudo der errado) não estarei mais aqui e desde já sinto aos montes a saudade, o alívio, a vontade de começar tudo isso de novo.
meu primeiro livro de poesia
meu primeiro livro de poesia, trocando socos com o fim do mundo, está em pré-venda e será lançado pela editora devir, poesia e prosa em novembro!
“trocando socos com o fim do mundo” documenta uma longa luta na qual poemas enfrentam seu autor em 99 rounds de puro sangue, suor e lágrimas. a arena é a modernidade: o antropoceno, essa época em que a ação humana se encarrega de moldar terras, vidas e tempos. a cada capítulo, temas distintos sobem ao ringue para desferir seus golpes: do amor na era da indiferença ao trabalho no século do esgotamento. em meio a muitas derrotas e vitórias, o livro vai se construindo como um relato íntimo do flexionamento de um corpo em busca de se adaptar à sua época, sem perder pelo caminho aquilo que o faz ele.
você pode comprar o livro agora no site da devir e me ajudar a espalhar meus poemas por aí :)
curti mto os versos dessa edição, parabéns pelo livro!