aqueles que estão prestes a morrer os saúdam
no atlântico, as colônias ainda vivem seu império
o poema de hoje surgiu a partir da leitura do de uma a outra ilha, plaquete da ana martins marques publicado no círculo de poemas.
refúgio
raros poemas me tomam de assalto
como toma o canto de um barco atlântico
zarpando das costas somalis
pintado de branco
um barco abstido de
eiras e beiras
a bandeira pirata
tecendo desaforos
à sensatez ocidental
como quem questiona
com armas
a pintura nas águas
divisão bem demarcada linhas traços
que dizem: essas e outras águas pertencem
aos filhos dos continentes
nelas navegaram os pais dos continentes
partem em cruzeiros suas mulheres
mães parentes distantes
mas nessas e noutras águas
não permitiremos que passem
pisem ameacem a paz
naves migrantes piratas espaciais
diremos com os braços:
quem for de boiar
que boie
quem pertencer ao fundo
que afunde
quem se assemelhar ao solo
que sacie a fome da terra infértil
abaixo das águas
que sangre sementes em seu leito escuro
e não espere nem se importe
com os frutos de uma boa morte
estão a salvo os capitães
as âncoras pousam suaves
nos ventres de mães nacionais
estão a salvo os homens do norte
arrebatados com suas crianças
crescendo pálidas
conservando os dentes fracos e
mãos setentrionais
do sul tudo será feito
do sul nada será dito além de seus hiatos
esqueçam flechas tacapes ak-47
o sul proverá ouro corpos
mão de obra barata
novas coleções delivery lítio o som do verão
e à legião estrangeira
será dada água
fogo espelhos
escombros de casas
maremotos humanos
chuvas torrenciais de
bombas não-atômicas
de bombas atômicas
esfarelando gente
é assim o mundo no atlântico
será assim o mundo no atlântico
em seus portos naufrágios e ilhas
onde sereias ainda devoram marinheiros
cantando o cântico dos brancos